Monday, April 10, 2006

EKOS

Ela estava sempre sozinha...
Não, sozinha não...
Havia aquela pessoa. Mas quem era?
Foi graças às borboletas de luz que ela conheceu o mundo. Para ela o mundo não passa disso.
É o passado que se enrola perpetuamente em si mesmo... e acaba por formar um arco-íris disforme... que treme na encruzilhada entre a ordem e o caos.
Tristeza...
Dor...
Esperanças...
Felicidade...
Mágoas...
Solidão...
Sonhos...
Sorrisos...
Lágrimas...
Quando engole tudo isso, o arco-íris treme.
A primeira vez que ela viu o mundo exterior, entraram nela muitos passados. E ela absorveu-os todos, como uma esponja absorve um líquido.
Ela fechava o mundo em si e entendia-o intimamente, com um intelecto... que ultrapassava qualquer concepção física ou filosófica.
As palavras fugiam dela... sem parar.
A verdade do universo... saía pela boca dela, e tornava-se luz. Mas ela fechava-a imediatamente...
Para imitar a influência sobre a civilização de uma inteligência evoluída de modo anormal, acrescentou-se um limite à sua capacidade de comunicação. Ela ficou assim impossibilitada de comunicar, a não ser pela linguagem tautológica das crianças.
Assim, pela sua natureza de corpo ressonante, ela foi denominada "Ekos".
Total impossibilidade de comunicar... A língua antes da língua...
Em breve ela entendeu outra coisa.
O seu corpo também se tornaria luz.
Sim, ela tornar-se-ia luz, e depois desapareceria. Pois ela é a derradeira forma de evolução.

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